Um espaço para partilha de ideias relacionadas com as práticas artísticas
e os seus efeitos terapêuticos, com destaque para a vertente musical

terça-feira, 21 de setembro de 2010

2º Campus Artístico

Em Maio de 2009 tive a grata oportunidade de poder participar e colaborar com o 1º Campus Artístico. O Campus consiste num encontro de várias vertentes artísticas, pretendendo-se acima de tudo quebrar as fronteiras entre a pessoa com deficiência e a expressão pela arte...
Uma experiência inesquecível... :)

Os objectivos da iniciativa passam por:
- contribuir na formação e desenvolvimento da pessoa com deficiência;
- proporcionar o acesso à cultura e à arte;
- identificar igualdade de oportunidades reais nas artes do espectáculo para a pessoa com deficiência;
- conferir visibilidade e promoção de projectos artísticos de e para pessoas com deficiência;
- descobrir, estimular e promover a promoção artística.

Para tal, durante a semana, decorrem diversos workshops, entre os quais Teatro, Música, Dança e Movimento, Animações de Clown, Pintura/Cenografia, Escultura, Multimédia/Som e Artes Circenses.

"Este é um projecto de férias na arte onde o lazer e a formação se cruzam, onde se misturam profissionais, amadores e todos quantos queiram participar nesta aventura, procurando igualar as oportunidades nas artes para a pessoa com deficiência. (...)
A 1º Edição Campus, em 2009 contou com 120 participantes. (...)
Criou-se um espaço mágico e de exploração artística; uma marca positiva que se tornou especial, que nos deu um grande incentivo para a organização da segunda edição."
Mónica Cunha
(organização)

É já na próxima semana, entre o dia 27 de Setembro e 3 de Outubro de 2010, que se vai realizar, na Colónia de Férias da Torreira, o 2º Campus Artístico.
A temática desta 2ª edição é a “ Liberdade”, sendo o ponto de partida: “Cada um pode escolher refugiar-se na segurança ou avançar para o crescimento. O crescimento deve ser uma escolha renovada; o medo deve ser uma recusa permanente.” (Abraham Maslow)

Esta iniciativa ensinou-me muito no âmbito profissional, levando-me a procurar mais sobre o papel das artes na educação e no desenvolvimento físico, cognitivo, social, e cultural.. mas acima de tudo possibilitou o meu desenvolvimento enquanto pessoa. Por isso eu vou! :)

Mais informação em http://campusartisticoappc.blogspot.com/

Imagens acedidas em:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIa0uxDmUs9nwlBdq9qCQUN4m1UFMW5zC7ZAIIfIwHkQEzSLwUaXNQ4uFidocaOIE7FijiwdQ_jNhSByMO4ShW21J5mwS1r1C5GAnc0C46sYiLp7bJUWNkldaqB-_IexxjXlhu0MX8Uck/s1600/victor.jpg
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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Naadterapia: a musicoterapia indiana

Intrigada com o efeito das taças, decidi procurar um pouco mais sobre os instrumentos orientais. Descobri uma espécie de musicoterapia suportada na música indiana: a Naadterapia. Uma vez que amanhã - 15 de Setembro - se celebra o dia do musicoterapeuta optei por postar antecipadamente algo em honra dos musicoterapeutas de todo o mundo... a universalidade da musicoterapia!

Naad é uma palavra em sânscrito que significa som.

Naadterapia é uma terapia que utiliza melodias e ritmos da música indiana para ajudar a promover a comunicação, aprendizagens, relações interpessoais, expressão, memória, concentração e qualidade de vida. É uma terapia auxiliar para o tratamento de doenças neurológicas, depressão, ansiedade, medos, traumas emocionais e psíquicos através da musicoterapia.

"A [Naad]Terapia incide essencialmente na limpeza e equilíbrio da mente, da alma e do corpo." (Mayank Verma, 2009)

O método baseia-se no facto de a música indiana se basear em escalas musicais diferentes das utilizadas no ocidente, uma vez que recorre a tons e microtons extras.

Com essas escalas, são criadas melodias e ritmos que se diz terem o poder de sintonizar a frequência sonora da mente. Essa frequência sonora define se o estado da mente é agitado ou ameno.

A música, por sua vez, tem o potencial de afectar directamente essa realidade. As melodias indianas são mantidas por um ritmo, o Taal, passado de geração em geração há milhares de anos.

O objectivo desta terapia prende-se na utilização dessas melodias e ritmos para criar Naad e trazer os seus benefícios numa perspectiva terapêutica. A Missão musical visa trazer maior compreensão sobre o poder da música como causa de mudanças no ser humano.

Os instrumentos tradicionalmente utilizados são a sitar (na imagem acima apresentada), as taablas (na imagem à esquerda), o harmonium e a tampura.

"A Taabla é um presente do divino, uma terapia; é renovador em todos os sentidos." (Ajit Singh)


Informação acedida em:
http://www.tablanaad.com/
http://www.naadtherapy.com/

Imagem acedida em:
http://karanramsundar.yolasite.com/resources/tabla-small.jpg
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQinkx6ORrv4W2Ju9kp87shuUo
i8Fe8AqRua4YQEP5Hac28kFk&t=1&usg=__VfZqmvRxosRFSl99Zg2m9TO9sCQ=


domingo, 12 de setembro de 2010

Taças tibetanas

Ontem comprei uma taça tibetana com cerca de 10 cm de diâmetro, quando passeava com umas amigas na baixa de Lisboa.
Quem ouve pela primeira uma taça tibetana é testemunha de que é impossível ficar-lhe indiferente. A vibração que produz é inunda corpo e alma, levando a uma sensação interior de tranquilidade e harmonia.
As taças de som Tibetanas, tem origem na cultura Xamanica Bon Po (pré-budista) dos Himalaias. A sua utilização data da era do Bronze, tendo sido propagada ao longo dos tempos em regiões tão geograficamente distantes como Indochina e Burma. As características destas taças mantém-se intactas nos nossos dias, sendo, sobretudo, produzidas e desde os tempos mais remotos no Butão, Nepal, Índia e Tibete.

As taças são produzidas manualmente com uma liga metálica com uma base de cobre. A restante constituição da liga é, tradicionalmente, composta por ouro, prata, platina, latão, chumbo e ferro, podendo, ainda, conter bismute, meteorito, zinco, pirite e galena.

Diz-se que o timbre da taça nos toca a alma, pois a sonoridade que emite vibra profundamente no nosso organismo. Por essa característica, é um instrumento conhecido pelo seu potencial meditativo e massajante. Peter Hess descreveu o efeito das taças com uma analogia muito interessante:
“Se deixarmos cair uma pedra num lago, surgirão ondas concêntricas que se alastram a toda a superfície aquática. Cada molécula de água é, desta forma, colocada em movimento. Com a massagem de som, algo de semelhante ocorre no nosso corpo, que é constituído em 80% por água. As vibrações transmitem-se ao corpo espalhando-se em ondas concêntricas: uma massagem reconfortante para cada uma das cem biliões de células existentes no corpo – uma massagem celular”.

Sugiro a visualização deste vídeo...



Informação acedida em:
http://singingbowls.webs.com/singingbowls.htm
http://mydzi.blogspot.com/2010/04/new-arrival-singing-bowls.html

Imagem acedida em:
http://www.mounteverestemporium.com/images/6.jpg

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Amazing Soundbeam

Check this out. One of the best music technological equipment ever. Full of possibilities and opportunities.


Soundbeam is an award-winning device which uses sensor technology to translate body movement into digitally generated sound and image.
It provides a medium through which even profoundly physically or learning impaired individuals can become expressive and communicative using music and sound. The sense of control, agency and independence which this provides can be a powerful motivator, stimulating learning and interaction in other areas.



More details in http://www.soundbeam.co.uk/

About this, I would like to share something.
I had the opportunity to attend a unique musical event in which there were two portuguese music groups that include members with cerebral palsy. One is called "Saravá" and the other is "5th punkada". They are a great demonstration of the abilities that people with cerebral palsy may have, and that, although limited in some activities (like all humans), can provide enormous talents in various activities.





One of 5th punkada's members uses the SoundBeam. The band is made up of youth from the Cerebral Palsy Portuguese Association's regional Center.
The group composes original songs and his style is situated within the Pop, Rock and Funk. Originally founded by musictherapist Francisco Borges de Sousa, in 1993, the band is currently under the artistic direction of Paulo Jacob.
They have made numerous performances around the country, and also in England, Germany, Belgium, France, Greece, Spain, Italy and Finland, promoting the disabled person as an agent of culture, interacting with the audience through a musical performance that explores new approaches technological music. The 5th Punkada are: Adelaide Serafino (keyboards, prog. Rhythmic), Fausto Sousa (vocals), Márcio Reis (drums, keyboards, vocals), Ricardo Sousa (Soundbeam) and Paulo Jacob (guitar, keyboards, vocals).



Saravá is a project that was born five years ago at the Oporto's Cerebral Palsy Association. Its main aim is the creation of original songs in portuguese.
Throughout his short career has transversed our country by acting in various rooms, auditoriums and festivals. The group consists of four elements: Bruno Francisco (voice and composition), Jorge Ribeiro (percussion, keyboards, programming), Pedro Castro (keyboards) and Sergio Silva (guitars and artistic direction).



These people make us see what really counts in life. The energy to move on.

Greetings,
Carolina Santos

Imagens acedidas em:
http://www.deconstructive.co.uk/images/soundbeam_diag2.jpg
http://www.deconstructive.co.uk/images/soundbeam_diag1.jpg
http://bica.cnotinfor.pt/uploads/5a_punkada.JPG
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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Don Campbell: O efeito de Mozart

Uma das minhas sugestões de leitura para quem gosta de aprender sempre mais sobre a dimensão fascinante a que chamamos música designa-se "O efeito de Mozart: aproveitando o poder da música para curar o corpo, fortalecer a mente e desbloquear o espírito criativo", escrito por Don Campbell. Embora um pouco sensacionalista na arte de divulgar o poder da música, considero uma leitura relativamente interessante, pelo que cito algumas passagens:

"In an instant, music can uplift our soul. It awakens within us the spirit of prayer, compassion, and love."

"Music can (...) conjures us memories of lost lovers or deceased friends. It lets the child in us play, the monk in us pray, the cowgirl in us line dance, the hero in us surmount all obstacles. It helps (...) find language and expression... (...) it is more than all those things. It is the sounds of earth and sky, of tides and storms. It is the echo of a train in the distance, the pounding reverberations of a carpenter at work."

"From the first cry of life to the last sigh of death, from the beating of our hears to the soaring of our imaginations, we are enveloped by sound and vibration every moment of our lives. It is the primal breath of creation itself, the speech of angels and atoms, the stuff of which life and dreams, souls and stars, are ultimately fashioned."


domingo, 5 de setembro de 2010

Mas... o que é a música?

A música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que se baseia em combinar sons e silêncio seguindo ou não uma pré-organização ao longo do tempo.

É considerada uma prática cultural, social e humana. O início desta forma de arte terá surgido perante a observação dos sons da natureza. Estes terão despertado tal interesse no homem, que terá nascido a vontade de criar uma actividade que se baseasse na dedicação à organização de sons.

Actualmente não se conhece nenhuma civilização que não possua manifestações musicais próprias, ou seja, a música é celebrada em todas as culturas. Possivelmente, este facto justifica-se pela atracção que a música exerce sobre os seres humanos, pelas suas inúmeras possibilidades criativas que permite e pelo seu potencial imitativo.

É usada como uma marca de identidade, ajudando a demarcar territórios culturais, identificando grupos e formas de vida, e possibilita a condição de integração, de socialização, de um movimento que ora se estrutura, ora se desestrutura. O fluxo de harmonia que a caracteriza permite estabelecer contacto, relação, percepção e cognição.

E para ti... o que é a música? :)

Bibliografia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica
http://musicoterapeutamirna.blogspot.com/

Imagens acedidas em:
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http://musicoterapeutamirna.blogspot.com/

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Interesting gadget: Sound Space

Hi all!
Recently, I found an interesting gadget developed by Casa da Música (House of Music, Oporto) that seems useful to people with special needs. It makes possible to play music through potentiate all the movements of the body.
I would like to share with you.

"SoundSpace is a virtual electronic instrument that makes sounds in motion carried in a given space. SoundSpace is one of the most interesting proposals for the creation of the Casa da Música to the public, showing excellent results in terms of art, education and therapy.
A chorus of laughter, a trill or a full orchestra, everything can wake up with a single gesture. Through this creation of Rolf Gehlhaar moves, hears and is created in an individual case or, better still, as a group.
For those who never saw him, SoundSpace looks like an empty space. It seems because everything there is, after all, a lush sound world. Ultrasonic sensors, arranged in two adjacent sides, pick up any movement made within the area encompassed by transmitting information that are immediately transformed into sounds, rhythms, harmonies: walking can be like stepping on the keys of a piano, a race can agree on various instruments , a slight nod Wake applause.
Everything depends on the orders given to a computer that replicates an infinite variety of musical styles and sounds of all kinds.
Through its unique features, this virtual instrument inspired artists, excites the general public of all ages, and extends the possibilities of artistic achievement for citizens with special needs. Amazing vehicle of communication, allows anyone to be assumed as a performer, and no one runs the risk of making mistakes - everything that happens is progress, development and self-expression."

Awaken our imagination... :)
Greetings

More details in http://www.casadamusica.com/

Imagem acedida em:
http://jpn.icicom.up.pt/imagens/cultura/frame_soundspace2_jpn.jpg


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Arte-terapia

O ser humano é, por norma, dotado das capacidades necessárias para o domínio de um código linguístico com características complexas. Inúmeros estudos foram e são feitos relativos às diversas maneiras como a espécie humana comunica. Muitos esforços foram feitos no sentido de clarificar a distinção entre comunicação verbal e comunicação artística.

Perante perturbações a nível da comunicação e linguagem, há a necessidade de recorrer a outros meios que facultem ao indivíduo uma comunicação funcional, no sentido de possibilitar a expressão de conteúdos que não encontram uma significação satisfatória pela comunicação através de palavras.
Para tal, segundo diversos autores, pode recorrer-se a diversas formas artísticas, como a música, dança, artes plásticas, entre outros.

A Arte-Terapia distingue-se como método de tratamento psicológico, integrando no contexto psicoterapêutico mediadores artísticos. Pretende-se o desenvolvimento de uma relação terapêutica que assenta na interacção entre o sujeito (criador), o objecto de arte (criação) e o terapeuta (receptor). Estas características "facilitam a comunicação, o ensaio de relações objectais e reorganização dos objectos internos, a expressão emocional significativa, o aprofundar do conhecimento interno, libertando a capacidade de pensar e a criatividade". (Ruy de Carvalho, 2001, in http://www.arte-terapia.com/pt/a-spat/o-que-e-arte-terapia)
Estas formas artísticas constituem actividades terapêuticas que propiciam o acolhimento de toda e qualquer expressão, dando possibilidade ao paciente de expressar os seus conteúdos internos, alegrias, tristezas, angústias e medos. Estes aspectos emocionais reflectem-se quer na saúde mental quer nos aspectos sociais que envolvem as relações interpessoais do paciente e as actividades em que participa

Bibliografia:
• Correia, J. S. (2006). Como comunicamos musicalmente? Actas de La V Reunión de SACCoM (Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Musica) , pp. 135-145.
http://www.arte-terapia.com/pt/a-spat/o-que-e-arte-terapia
• Zanini, C. R. et al (2009). O efeito da musicoterapia na qualidade de vida e na pressão arterial do paciente hipertenso. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 93(5), pp.534-540.

Imagem acedida em:







quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Semelhanças entre a relação mãe-bebé e a relação musicoterapeuta-paciente

Diversos estudos demonstram que, no desenvolvimento normal, as crianças nascem com a capacidade de se relacionar e comunicar com outras pessoas. Esta habilidade pode ser designada por “musicalidade comunicativa” (Malloch, 1999, cit in Kim, Wigram & Gold, 2008) ou “musicalidade inerente” (Robarts, 1996, cit in Kim, Wigram & Gold, 2008), reportando à capacidade de o bebé, no seio da interacção mãe-bebé, e ainda numa fase pré-verbal, ser capaz de identificar padrões rítmicos, através do reconhecimento da presença de som (vocalizações, palmas) e da sua ausência (silêncios, pausas).

Posteriormente, esta orientação inata e natural para reconheces padrões rítmicos constituirá a base das interacções comunicativas estabelecidas entre o bebé e o seu cuidador, comummente designadas protoconversações, através do improviso interactivo, troca de turnos, ajustamento e desenvolvimento do tom das vocalizações, caracterizadas por uma base rítmica com conteúdo emocional e pela sua essência comunicativa.
Esta interacção não-verbal permite, pois, que o bebé realize as suas primeiras experiências comunicativas, facultando um meio de compreensão e expressão entre os interlocutores - neste caso, mãe e bebé -, consistindo num código que permite a cada um dos interlocutores influenciar o comportamento do parceiro. Será a partir desta competência que a criança desenvolverá capacidades comunicativas e acederá ao mundo social.

Sob este ponto de vista, é compreensível que a vasta gama de aptidões às quais o bebé recorre para comunicar com a sua mãe se assemelhe às capacidades trabalhadas em musicoterapia, mais especificamente na técnica de improvisação musical, uma vez que se pretende a expressão e transmissão de ideias, produzindo uma performance comunicativa funcional. Resumidamente, a musicoterapia trabalha os princípios que regem as interacções comunicativas observadas entre mãe e bebé, através do desenvolvimento e exploração da expressão e compreensão baseada em elementos rítmicos.

Bibliografia:
· Schögler, B. (1998). Music as a Tool in Communications Research. Nordic Journal of Music Therapy, 7(1), pp.40-49;
· Beebe, B (1982): Micro-Timing in mother-infant communication. In Key, M.R. (ed): Non-Verbal Communication Today. The Hague: Mouton Publishers.
· Kim, J.; Wigram, T.; Gold, C. (2008): The effects of improvisational music therapy on joint attention behaviors in autistic children: a randomized controlled study. Journal of Autism and Development Disorders, vol. 38, 1758-1766


Imagens acedidas em:
· http://ivansitta.files.wordpress.com/2009/08/musicoterapia2.jpg
·http://static.blogstorage.hi-pi.com/photos/mamaritinha.bebeblog.com.br/images/gd/1264874673/Voce-fala-manhes-com-seu-bebe.jpg

Musicoterapia, Autismo e Comunicação

Hoje celebra-se o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo.
A palavra autismo deriva da palavra grega autos, que significa ego. Foi utilizada pela primeira vez, em 1942, por Kanner, para descrever onze casos de crianças que apresentavam um quadro caracterizado por obssessão, estereotipias e ecolália. Lorna Wing e Judith Gould (1979) definiram o conceito de autismo como uma síndrome caracterizada por desvios qualitativos na comunicação, integração social e capacidade para realizar o jogo simbólico. Designaram o conjunto destes três sinais por Tríade, que consideraram responsável por um padrão de comportamento restrito caracterizado por insistência na repetição. Em 1996, Wing sugere a utilização do termo Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), sendo hoje um dos conceitos mais amplamente aceites.
Afecta dez a quinze pessoas em cada dez mil, sendo esta proporção quatro vezes mais frequente no sexo masculino. A probabilidade de aparecimento de PEA em familiares directos é 50 a 100 vezes superior à da população em geral, pelo que é evidente a existência de uma base biológica/genética, sendo actualmente aceite que a perturbação está presente no nascimento. Contudo, presentemente, não existem testes laboratoriais ou genéticos que permitam identificar/detectar o autismo. A PEA pode manifestar-se precocemente, desde os primeiros dias de vida, sendo, no entanto, comum crianças aparentemente normais apresentarem as primeiras características da PEA apenas a partir dos 18 meses.

O motivo mais frequente da consulta destas crianças prende-se com desvio ao nível da comunicação – ausência de procura de contacto ocular, falta de sorriso social ou de uso de gestos – e/ou atraso no desenvolvimento da linguagem. Este atraso pode consistir na dificuldade em compreender e utilizar expressões metafóricas, na sua vertente mais leve, ou ir até à ausência de linguagem verbal, em casos severos. Podemos, ainda, encontrar crianças com um discurso repetitivo e ausente de significado, apresentando ecolália imediata (repetindo o que lhes foi dito no momento) ou ecolália diferida (repetindo frases ouvidas anteriormente).
Relativamente às dificuldades de socialização, indivíduos com PEA apresentam, comummente, dificuldades em relacionar-se com os outros, nomeadamente pela falta de reciprocidade na relação social e incapacidade para compreender e partilhar sentimentos e emoções. Estas dificuldades tornam difícil a criança colocar-se no lugar do outro, levando, frequentemente, à diminuição ou mesmo ausência da capacidade de imitar.
As dificuldades observadas ao nível do jogo imaginativo/simbólico reflectem-se na rigidez e inflexibilidade do comportamento, pensamento e linguagem. Poderá haver dificuldade na aceitação de mudanças, evidência de comportamentos obsessivos e ritualistas, bem como compreensão literal da linguagem.
Pode, ainda, verificar-se a presença de aversão ao toque, comportamentos auto-agressivos, estereotipias, problemas de alimentação e de sono, entre outros. As estereotipias reflectem um défice criativo, sendo comportamentos repetitivos e reiterados com a função única de retro-alimentação cinestésica ou sensorial. Apesar da discrepância entre autores, é consensual a existência de um défice generalizado nas capacidades cognitivas, nomeadamente ao nível da atenção, percepção – apresentam respostas anormais perante estimulação sensorial proveniente dos diversos órgãos sensoriais – e dos processos intelectuais – estudos apontam que cerca de 80% das crianças com PEA apresentam um Q.I. inferior a 70, dentro das quais 60% apresentam valores abaixo dos 50.

A musicoterapia tem demonstrado ser eficaz na alteração de comportamentos definidos e específicos, oferecendo a possibilidade de desenvolver e potenciar comportamentos comunicativos, interacções e respostas sociais na PEA.



Saperston (1973) conduziu um estudo com uma criança de oito anos de idade, tendo verificado que, com o decorrer das sessões de Musicoterapia, a criança começou a sorrir, a estabelecer contacto ocular com o musicoterapeuta, evidenciando, também, vocalizações mais frequentes, e demonstrando, ainda, iniciativa para se sentar próxima deste, no início da sessão.
Ricketts (1976) recorreu à técnica de improvisação de musicoterapia com um duas crianças, tendo verificado que uma, de quatro anos, que anteriormente não apresentava contacto ocular nem discurso funcional, depois de três anos e meio de intervenção, começou a estabelecer o contacto ocular, apresentava um vocabulário de 50 palavras e demonstrava compreender frases simples. A outra criança, de nove anos de idade, após seis anos de intervenção, alcançou um elevado performance musical, tendo entrado num conservatório onde estudou violino, piano e composição.
Miller & Toca (1979) estudaram um caso de uma criança de três anos, com PEA, em fase não-verbal. Verificaram que a criança começou a articular palavras quer nas sessões da terapia, quer em contexto extra-terapêutico. Depois de 35 sessões, a criança começou a combinar palavras em frases simples e a demonstrar responsividade.
Wimpory, Chadwick & Nash (1995) recorreram à musicoterapia no sentido de desenvolver as competências comunicativas numa criança com três anos de idade com PEA. Os resultados obtidos reportam algumas mudanças, nomeadamente, uma diminuição no tempo de reconhecimento da mãe, o desenvolvimento da capacidade de iniciar e manter o contacto ocular e, ainda, a emergência de iniciativa nas interacções comunicativas. Wimpory & Nash, em 1999, realizaram um novo estudo com uma menina com PEA, tendo verificado o desenvolvimento do contacto ocular, uma maior frequência de situações comunicativas, emergência de jogo simbólico e iniciativa para realizar brincadeiras com a mãe.
Em 1998, Starr & Zenker realizaram um estudo semelhante numa criança com PEA de cinco anos de idade, tendo comprovado igualmente, o desenvolvimento da competência de contacto ocular, bem como o aumento do tempo de atenção conjunta e de permanência em actividade com outrem. Os autores realizaram outro estudo, também em 1998, com uma criança com PEA, perspectivando o desenvolvimento das suas competências linguísticas e o uso apropriado de pronomes pessoais na primeira pessoa. Verificou-se que, no final da terapia, a criança revelou um maior comprimento médio de enunciado, utilizando, portanto, frases maiores e mais complexas, além de recorrer ao pronome “eu” com maior frequência.
Gold, Wigran & Elefant (2006) evidenciaram os progressos de sessões de musicoterapia em crianças autistas, demonstrando o aumento da frequência de estabelecimento e do tempo de manutenção de contacto ocular, desenvolvimento da capacidade de atenção conjunta e, ainda, uma maior frequência na ocorrência de turn-taking, comparando com outras actividades do quotidiano destas crianças.

"Music expresses that which cannot be said and on which it is impossible to be silent"
(Victor Hugo)


Bibliografia:
  • Carpente, J. (2009). Contributions of Nordoff-Robbins Music Therapy within the DIR®/Floortime™ Framework to the Treatment of Children with Autism: four cases studies. Dissertation Submissed In Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree Doctor in Philosophy. Philadelphia: The Temple University Graduate Board;
  • Gold, C.; Wigram, T. & Elefant, C. (2006). Music Therapy for autistic Spectrum disorders. Cochrane database of systematic reviews, 2;
  • Gold, C.; Wigram, T. & Kim, J. (2008). The effects of improvisational music therapy on joint attention behaviors in autistic children: a randomized controlled study. Journal of Autism and Development Disorders, 38, pp.1758-1766;Mello, A. M. (2005). Autismo: Guia Prático. 4ªedição. Brasília: Corde;
  • Miller, S. B. & Toca, J. M. (1979). Adapted melodic intonation therapy: A case study of an experimental language program for an autistic child. Journal of Clinical Psychiatry, 40, pp.201-203;
  • Padilha, M. C. (2008). A musicoterapia no Tratamento de Crianças com Perturbação do Espectro do Autismo. Dissertação de mestrado. Covilhã: Universidade da Beira Interior
  • Ricketts, L. (1976). Music and handicapped children. Journal of the Royal College of General Preacticioners, 26, pp.585-587;
  • Saperston, B. (1973). The use of music in establishing communication with an autistic mentally retarded child. Journal of Music Therapy, 10(4), pp.184-188;
  • Starr, E. & Zenker, E. (1998). Understanding autism in context of music therapy: Bridging theory and practice. Canadian Journal of Music Therapy, 6, pp.1-19.
Imagens acedidas em:
  • https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRek_6T3rATjNSjtiXpJUReTudsMMsZwW9xot8mpRh7tVdQqF1z6q5EDH8slq0y0dtShHfdt1DYa196mpAMh1_pCn1360r-5e4ny1p3rshWW3TEJT1t4Nd4NesqAg8uFlk0xldttz4NFYl/s320/Autismo.gif
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