Um espaço para partilha de ideias relacionadas com as práticas artísticas
e os seus efeitos terapêuticos, com destaque para a vertente musical

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Efeitos da música no desporto

Costas Karageorghis, consultor de psicologia do desporto na Universidade de Brunel, Inglaterra, é o autor de uma pesquisa sobre os efeitos da música no desporto (“Music in Sport and Exercise: Theory and Practice”).
Para avaliar os atletas, uma música foi tocada 17 vezes durante os 20 km de percurso de uma maratona. Em entrevistas feitas no final da corrida, os corredores consideraram o procedimento divertido e inspirador. Karageorghis afirma que a música possibilita uma motivação extra aos atletas, constatando que a música é um meio de regulação do humor, tanto antes como durante as actividades físicas: "Muitos atletas vinculam-se à música como se fosse uma droga lícita, utilizando-a como estimulante ou sedativo."

A audição de uma música revela-se promissora no sentido em que reduz a atenção sobre a actividade física, o que possibilita desviar a mente da percepção do cansaço, sendo possível reduzir esta percepção em cerca de 10%. Esta técnica é conhecida pela psicologia como dissociação. Neste caso concreto, a dissociação do foco de atenção para a música reduz as sensações fisiológicas de fadiga.

Por outro lado, a música influencia o humor, podendo potenciar aspectos positivos como a energia e entusiasmo, reduzindo a depressão, tensão, fadiga, raiva e confusão. Assim sendo, uma vez que possibilita a alteração da excitação emocional e fisiológica, pode ser usada antes da competição ou treino como um estimulante ou como um sedativo relativamente a sentimentos de ansiedade.

Existem também evidências de que a sincronização da música com exercícios que exijam um ritmo constante está associada a um aumento da performance do desportista, nomeadamente perante modalidades como o remo, ciclismo, entre outros. Neste caso, o ritmo da música funciona como regulador do ritmo de movimento, ou seja, a música oferece pistas temporais que comportam o potencial de aprimorar a eficiência dos atletas.
Haile Gebrselassie, o atleta que conquistou a medalha de ouro nos 10 000 metros nos Jogos Olímpicos de Sidney, 2000, é famoso por ter obtido recordes mundiais ao som da música "Scatman". Afirma que a escolha da música em questão se deve ao facto de o seu ritmo estar perfeitamente adaptado à sua velocidade óptima de corrida, uma consideração fulcral para um corredor de longa distância, cujo objectivo consiste em estabelecer um movimento constante.
O efeito da sincronização foi também demonstrado num estudo experimental desenvolvido por Simpson e Karageorghis (2006), no qual foi evidenciado que a música sincronizada reduziu a velocidade de execução de um sprint de 400 metros em 0,5 segundos.

Um outro efeito da música, segundo Karageorghis, é o de que esta pode ter um impacto positivo sobre a aquisição de habilidades motoras. A música, preferencialmente acompanhada de movimentos de dança, cria oportunidades para explorar diferentes planos de movimento e melhorar a coordenação motora.

Para os interessados em experimentar os efeitos aqui descritos, sugiro que se inspirem aqui
:)

Bibliografia:
- Bacon, C., Myers, T., & Karageorghis, C. I. (2008). Effect of movement-music synchrony and tempo on exercise oxygen consumption. Manuscript submitted for publication;
- Bishop, D. T., Karageorghis, C. I., & Loizou, G. (2007). A grounded theory of young tennis players’ use of music to manipulate emotional state. Journal of Sport & Exercise Psychology, 29, 584–607;
- Karageorghis, C. I. (1999). Music in sport and exercise: Theory and practice. The Sport Journal, 2(2). Retrieved March 28, 2007, from http://www.thesportjournal.org/1999Journal/Vol2-No2/Music.asp;
- Karageorghis, C. & Priest, D. (2008). Music in Sport and Exercise: An Update on Research and Application. The sports journal, vol.11, n.3, acedido em http://www.thesportjournal.org/article/music-sport-and-exercise-update-research-and-application;
- Nethery, V. M. (2002). Competition between internal and external sources of information during exercise: Influence on RPE and the impact of the exercise load. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, 42, 172–178;
- Simpson, S. D., & Karageorghis, C. I. (2006). The effects of synchronous music on 400-m sprint performance. Journal of Sports Sciences, 24, 1095–1102.

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Objectivos da Musicoterapia

Os objectivos da prática de musicoterapia variam entre os vários autores, mas verifica-se que estes, de algum modo, contemplam sempre três aspectos primordiais: a interacção positiva do paciente com outros seres – fortalecimento de relações interpessoais –, o desenvolvimento de uma auto-estima positiva – melhoria da qualidade de vida – e a utilização a música como incentivo à creatividade e autoexpressão, procurando o desenvolvimento da comunicação.
Optei por expôr a perspectiva dos autores López & Carvalho, uma vez que considero que a forma como organizam e expõem os objectivos é clara, explícita. Por outro lado, nesta perspectiva é dado ênfase à dimensão emocional da pessoa, a qual constitui base catalisadora para as aprendizagens que efectua. O equilíbrio emocional é condição essencial para que a exploração do mundo, a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades de cada um sejam devidamente exploradas e potencializadas. Seguindo esta linha de raciocínio, os autores em questão definem três conjuntos de objectivos distintos abordados na prática da Musicoterapia, colocando a àrea emocional em lugar de destaque:

* área emocional: pretende-se recuperar o paciente para a convivência em sociedade, no sentido de fortalecer as suas relações interpessoais, promovendo a (re)integração e/ou (re)socialização do indivíduo, bem como a auto-estima positiva;

* área de comunicação e memória: pretende-se alcançar progressos ao nível da capacidade de percepção auditiva, linguagem, fala, compreensão do papel do outro, manutenção da atenção e memória. A musicoterapeuta Rita Aguiar acrescenta que na dimensão da linguagem, pretende-se desenvolver, essencialmente, a área da pragmática, bem como estimular a utilização de gestos. A fonoaudióloga Esther Ninsenbaum salienta que os objectivos devem centrar-se no alcance de reorganização interna que favoreça a transição entre a expressão não-verbal e a expressão codificada verbal.

* área motora: pretende-se trabalhar áreas como a coordenação motora, o equilíbrio, o controlo do movimento, a manutenção e controlo da postura e marcha, a respiração, o ritmo e a orientação espacial. Aguiar & Ninsenbaum enfatizam ainda a importância da musicoterapia para o desenvolvimento da motricidade fina.

Bibliografia:
· Aguiar, R. & Ninsenbaum, E. (1999). Musicoterapia: superando fronteras. Rio de Janeiro: CC&P Editores;
· López, A. L. & Carvalho, P. R. (1999). Musicoterapia com Hemiplégicos: um trabalho integrado à fisioterapia. Rio de Janeiro: Enelivros;


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domingo, 17 de outubro de 2010

Já Platão dizia...

"A música foi-nos dada por causa da harmonia. E a harmonia, que tem movimentos semelhantes às revoluções da nossa alma, foi-nos dada pelas musas não como uma ajuda para os nossos prazeres irracionais (como agora se crê), mas como uma ajuda para a revolução íntima da alma, quando esta perdeu a sua harmonia e para apoiar a restauração da sua ordem e a reconciliar consigo própria." (Platão, séc. V a.C.)

O que se realça neste texto é a concepção da música como mais do que um simples prazer sensorial. É entendida como uma representação da psique. Concede-nos um espaço e tempo para pintarmos os frutos da nossa imaginação, desenharmos os nossos fantasmas, esboçarmos os nossos sonhos. Por isso a música que criamos, que provém do nosso corpo à semelhança de toda a forma de expressão, reconcilia-nos connosco, organiza os nossos devaneios, acorda os prazeres mais íntimos.
"É esta a generosidade da música feita não de imposição, mas de disponibilidade para ser a nossa voz mais íntima e mais verdadeira." (David Rodrigues, 1998)

Bibliografia:
Rodrigues, D. (1998). A expressão no contexto da reeducação e da terapia. Textos de Musicoterapia I. Lisboa: Associação Portuguesa de Musicoterapia

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Solarbeat

The Solar System makes music in Whitevinyl's clever flash

Hi all!
Luke Twyman (White Vinyl Designs) recently released Solar Beat: it uses a virtual Orrery as a type of music box looped using the orbital frequencies of our own solar system.

"It's one of those simple concepts where astrophysics is translated into a pleasing ambient loop soundtrack more profound than your average web diversion." (Jacob Resneck, @Cool Hunting)

Turn on your sound and click the link below "to see what type of music our solar system makes…"

http://www.whitevinyldesign.com/solarbeat


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A música não é linguagem... mas é comunicação

A música não é uma linguagem…

Segundo o neurologista Borchgrevink (1991), a música pode ser definida como uma progressão sonora não-linguística organizada no tempo. O facto de ser não linguística justifica-se se for considerado que cada elemento sonoro carece da conexão simbólica específica com um conceito/significado/ideia que caracteriza uma linguagem. A linguagem verbal desenvolve-se, pois, por associação de conceitos e símbolos, enquanto que o desenvolvimento das construções musicais é submetido a uma lógica de associação ditada pelas nossas experiências: “são as experiências auditivas, não a música em si, que geram as verdades ficcionais” (Walton, 1997, cit in Correia, 2006, p.139). Ao contrário da linguagem verbal, a música não apresenta, portanto, uma organização interna que permita representar o mesmo significado proposicional ou a mesma realidade para todos.

… é comunicação


Inúmeros estudos foram e são feitos relativos às diversas maneiras como a espécie humana comunica. Muitos esforços foram feitos no sentido de clarificar a distinção entre comunicação verbal e comunicação artística. Pode entender-se comunicação como um processo interaccional através do qual são efectuadas trocas de mensagens, utilizando-se sistemas simbólicos de suporte para esse fim.
Os componentes envolvidos no processo de comunicação compreendem o emissor, o receptor, a mensagem, o canal de propagação, o meio de comunicação, a resposta (feedback) e o ambiente onde o processo comunicativo se realiza. A comunicação pode, então, ser vista como um veículo das manifestações observáveis de um indivíduo, em que toda a manifestação possui uma mensagem a ser levada. As palavras, a movimentação, a inactividade ou os silêncios, todos estes elementos comunicam.
Sendo o som um elemento desencadeador de representações simbólicas, pode-se considerar que a música corresponde e se insere na definição de comunicação supramencionada. Borchgrevink afirma, pois, que “a música (…) deve ser considerada um meio de comunicação, e, como na maioria das manifestações artísticas, as emoções, assim como os conceitos de carácter estético, ritualístico ou simbólico, podem ser expressados (…) de maneira mais directa do que através do código verbal, desde que os meios de expressão sejam percebidos e evoquem impressões (…) no ouvinte.” (cit in Hamel, 2006).
O fazer musical pode ser considerado como um meio de comunicação que facilita uma comunicação holística, envolvendo de forma integral e integrada o ser como um todo. Através da liberdade de criar, o ser humano ganha, entre outros benefícios, o prazer de produzir algo, de construir e de se comunicar através de uma linguagem com regras de construção mais livres do que a de linguagem falada.

“ (…) [A música é] actividade artística por excelência e possibilita ao compositor ou executante compartilhar suas emoções e sentimentos. Sob essa óptica, a música não pode ser um fenómeno natural, pois decorre de um desejo humano de modificar o mundo, de torná-lo diferente do estado natural. Em cada ponta dessa cadeia, há o homem. A música é sempre concebida e recebida por um ser humano. Neste caso, a definição da música, como em todas as artes, passa também pela definição de uma certa forma de comunicação entre os homens.”
(Pablo Etcheverria, 2007)

Bibliografia:
Hamel, N. (2006). Musicoterapia: a escuta terapêutica da linguagem musical. Revista Brasileira de Musicoterapia. Nº8, p.66-77
Correia, J. S. (2006). Como comunicamos musicalmente? Actas de La V Reunión de SACCoM (Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Musica) , pp. 135-145
Uricoechea, A. S. (1997). Construindo sons e suas ressonâncias. Revista Brasileira de Musicoterapia, nº3 , pp. 35-40
Braga, A. L. & Lang, N. (2006). Pesquisando a “inclusão” na cidade de Ribeirão Preto. Revista Brasileira de Musicoterapia, 8, pp.11-25

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dia mundial da música

HOJE comemora-se o dia mundial da música! Este post pretende constituir uma dedicatória a todos os músicos, musicoterapeutas, cantores, maestros, compositores, DJ's, musicólogos, luthiers, produtores musicais e todos aqueles que vivem para sentir, percepcionar, compreender, usar, recorrer, manipular, transformar, interpretar, criar, recriar, ouvir e escutar música :)

Nietzsche e Schopenhauer, dois dos “espíritos” mais inquietantes da Filosofia, reconheciam na música um verdadeiro arrebatamento do Ser, só a música era capaz de fazer corpo e “mente”, unidos, dançarem em perfeita sintonia.
Concretizando esta perspectiva filosófica sob um ponto de vista científico, diversos estudos têm sido desenvolvidos em diversas áreas científicas, revelando que a música é eficaz como um meio complementar de intervenção terapêutica sobre diversas doenças.
Descobri dois artigos de órgãos de comunicação social - duas revistas - que divulgam precisamente o poder da música na saúde.

O excerto que se segue foi retirado e traduzido da edição brasileira da revista Seleções do Reader's Digest de dezembro de 2001. pág. 131.

'Vítimas de queimaduras estimuladas a cantar quando lhe trocam as ligaduras sentem menos dor. Pacientes de cancro que ouvem música e aprendem a tocar instrumentos, por exemplo, vêem os níveis das hormonas do stress reduzir, fortalecendo o sistema imunológico.
Parte das potencialidadades da música resulta da capacidade de reduzir a ansiedade, podendo esta comprometer as defesas imunológicas, bem como intensificar a sensação de dor.

A música
tem sido cada vez mais utilizada para efeitos terapêuticos, sendo que desvia a atenção da pessoa do sofrimento e alivia a tensão. As experiências que têm sido desenvolvidas revelam que os efeitos da música influenciam o desenvolvimento cerebral, uma vez que activam diferentes partes do cérebro, nomeadamente áreas associadas ao controlo motor, memória, emoção e fala, explica o neurocientista e músico Michel Thaut, da Universidade Estadual do Colorado.
A título de exemplo, quando Debbie Clark levou Adam, o seu filho autista de 3 anos, a um musicoterapeuta, o menino aprsentava pouca frequência de produção de fala. Na clínica da Universidade Estadual da Califórnia, os terapeutas incentivaram o desenvolvimento da sua expressão, recorrendo à musicoterapia. "Em três meses a transformação foi fenomenal" diz Debbie. "Antes, Adam nunca olhava pessoas desconhecidas nos olhos. Agora, despede-se dos musicoterapeutas dizendo 'Tchau, Jim. Tchau, Ron. Até semana que vem.' Isto é música para os meus ouvidos."

Thaut tem verificado a estreita ligação entra música e movimentos, nos trabalhos que tem desenvolvido com vítimas de Acidente Vascular Cerebral e Distrofia Muscular, bem como com portadores de Paralisia Cerebral e Doença de Parkinson.

Segundo o musicoterapeuta Ron Borczon, "há séculos que os curandeiros usam músicas e tambores. Estamos apenas a redescobrir o que eles sempre souberam: a música, por meio da sua profunda repercussão sobre a mente e o corpo, pode ser uma arma poderosa para curar as pessoas".
'

Também a revista SuperInteressante, na edição electrónica, aborda o assunto, estando abaixo apresentada uma adaptação do excerto passível de acesso em http://super.abril.com.br/cultura/musica-cabeca-441937.shtml

'A música alivia a dor do pós-operatório, faz bem a pacientes com danos cerebrais e ajuda o bebé a nascer mais rápido.
Depois da Segunda Guerra Mundial, hospitais americanos obtiveram resultados surpreendentes ao contratar músicos para ajudar na recuperação dos veteranos de guerra. “Foi assim que a musicoterapia ganhou força”, diz Cléo Correia, vice-presidente da Associação de Profissionais e Estudantes de Musicoterapia de São Paulo. Desde então, a terapia através da música e do uso de sons tem vindo a ganhar status académico. “Os médicos estão cada vez mais conscientes da importância da música em diversos tratamentos”, diz Cléo. “Até para diminuir a percepção de dor dos pacientes depois de uma cirurgia.”

Na Universidade Federal Paulista de Medicina, o neurologista Mauro Muszkat pesquisou as alterações elétricas no cérebro de pacientes ao escutarem música. “Um paciente que sofreu algum dano cerebral pode recuperar parte das funções perdidas se for estimulado com a música”, diz Muszkat. Os musicoterapeutas trabalham com um roteiro específico e personalizado de músicas e sons ambientais que pretendem estimular respostas particulares em cada paciente, conforma as características individuais e objectivos a atingir.
Em alguns hospitais, a música é utilizada como banda sonora de situações de parto. “Uso a música para estimular as contrações uterinas”, diz José Bento de Souza, obstetra do hospital paulista Albert Einstein. Na sua sala de parto, os bebés nascem ao som de Mozart e Beethoven, como numa grande abertura de ópera.'


É bom saber que a divulgação desta temática começa a ganhar dimensões mais eficazes na tarefa de sensibilização da população :)


Imagem acedida em:

http://blog.targethealth.com/wp-content/uploads/2009/06/20090602-4.jpg