Um espaço para partilha de ideias relacionadas com as práticas artísticas
e os seus efeitos terapêuticos, com destaque para a vertente musical

terça-feira, 29 de novembro de 2011

The Music of Love


This picture was taken in Tenganan Village, Bali (2010). Tenganan is the most famous Bali Aga (original Balinese) village and is located close to Candi Dasa in East Bali.
A man was playing bamboo music to entertain a disabled child which is not his son, but he loves this child likes he loves his own son.
(Photo and caption by Ario Wibisono)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Músico com amnésia apresenta memórias musicais

Cientistas crêm estar mais perto de descobrir como é que uma pessoa que sofre de amnésia consegue reter conhecimentos musicais. A resposta pode estar no facto de que as memórias musicais são armazenadas em partes do cérebro distintas das outras memórias.

Quando o maestro britânico Clive Wearing contraiu uma infecção no cérebro em 1985 - uma encefalite por herpes - ficou com a capacidade de recordar apenas os eventos ocorridos 10 segundos antes. A infecção danificou uma parte do seu cérebro conhecida como lobo temporal médio.
Embora apresentasse um dos casos mais graves de amnésia conhecido pelos cientistas, a habilidade musical do condutor permaneceu intacta. Hoje com 73 anos, Wearing consegue ler partituras e tocar música no piano, e chegou inclusive a reger seu antigo coral.


Num congresso da Sociedade para a Neurociência realizado neste mês (Novembro de 2011) em Washington, um grupo de cientistas alemães descreveu o caso de um violoncelista profissional - identificado apenas como PM - que contraiu encefalite por herpes em 2005. Incapaz de recordar as coisas mais simples - como a imagem de sua própria casa -, à semelhança de Wearing, PM manteve intacta a sua memória musical.
Segundo o médico que estudou o paciente, Carsten Finke, do Hospital Universitário de Charite, em Berlim, o lobo temporal médio do cérebro, severamente afectado em casos de encefalite por herpes, é "altamente relevante" para a memória de eventos e como, onde e quando eles ocorrem. "Mas estes casos sugerem que a memória musical pode ser armazenada de forma independente do lobo temporal médio", afirma o dr. Finke.

A equipa de cientistas alemães também estudou o caso de um paciente canadense nos anos 1990 que perdeu toda a sua memória musical após uma cirurgia que danificou especificamente uma parte do cérebro chamada de giro temporal superior. Este caso levou a equipa a sugerir que as estruturas do cérebro usadas para armazenar memória musical "devem ser o giro temporal superior ou os lobos frontais".
Finke afirma que continuam a ser necessárias novas pesquisas para confirmar a hipótese. "O que é realmente novo nesses casos é que mesmo em casos de amnésia densa e grave ainda existem ilhas de memória intactas, a memória musical", afirmou. "Esta memória pode ser usada como um ponto de acesso a esses pacientes. Podemos pensar, por exemplo, em relacionar música a actividades específicas, como tomar medicação, ou submetê-los a musicoterapia para recuperar qualidade de vida."

A neuropsicóloga Clare Ramsden ressalta que a memória musical é diferente dos outros tipos de memória. "Não é apenas conhecimento, é algo que você faz", define. A sua instituição, Brain Injures Rehabilitation, voltada para a reabilitação cerebral, estudou os casos de três músicos, incluindo Clive Wearing.
As conclusões mostram que as actividades musicais envolvem diferentes partes do cérebro. "A nossa pesquisa está começando a mostrar que as pessoas com dano nos lobos frontais têm suas habilidades musicais afectadas de forma diferente das pessoas como Clive, cujos lobos temporais médios foram danificados", disse Ramsden. "Clive ainda consegue ler partituras e tocar música. As pessoas com danos nos lobos frontais podem ter dificuldades de ler uma partitura e tocar uma música pela primeira vez, mas são boas em músicas que elas já sabem."

Para o professor Alan Baddeley, autor de estudos sobre Wearing pela Universidade de York, todos os casos "mostram que a memória não é unitária" e que "há mais de um tipo de memória". "A amnésia não destroi hábitos, mas os pacientes perdem a capacidade de adquirir e reter informação sobre novos eventos."

A esposa de Clive, Deborah, é autora de um livro, Forever Today ("Para sempre hoje", em tradução livre), que relata como a vida do casal mudou desde a amnésia do marido. "Mesmo tendo um piano no quarto há 26 anos, ele não sabe disso até que o instrumento lhe seja mostrado", contou Deborah à BBC. "Se você lhe der uma música nova, a visão dele percebe a partitura e ele toca a música no piano, mas sem aprendê-la". "Clive não sabe que tocava piano, nem que ainda sabe como tocar."
A esposa diz que, mesmo sem saber, o ex-maestro melhora sua apresentação cada vez que toca uma determinada música, e que ele ainda é capaz de tocar, instintivamente, canções que sabia de cor no passado. "Ele aprendeu "Messias" de Handel quando era criança e ainda sabe cantá-la."
Deborah diz que a música "é o único lugar onde podemos estar juntos, porque enquanto a música está tocando ele é completamente si mesmo". "Quando a música para, ele volta a cair do abismo. Não sabe nada sobre sua vida. Não sabe nada do que aconteceu com ele em toda sua vida."


Notícia acedida e adaptada de UOL Notícias

Imagem acedida em http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ_x7w07WIrgZoxONg3RW_qOrzzGGx7zz07o3zjyLVtKfzc4vJM2A


sábado, 19 de novembro de 2011

Music Has Power: Music Therapy and Aphasia


What would you think if you met a person who had lost his ability to speak after having a stroke, but who could sing with perfect clarity?

Harvey Alter, president and founder of the International Aphasia Movement, spoke regarding his first-hand experience on music's power to heal at the Institute for Music and Neurologic Function's 2008 Music Has Power Awards Benefit.


Image at http://comd480spring2011.wikispaces.com/file/view/aphasia_2.jpg/219311078/aphasia_2.jpg

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Quem canta seus males espanta

No seguimento da Música Traz Saúde a Leiria, partilho outro artigo que encontrei a relatar a prática de Musicoterapia no Hospital de Santo André.


«Quando o elevador pára no 4.o piso do Hospital de Santo André (HSA), em Leiria, há uma estranha quietude. As portas amarelas estão trancadas por dentro, ao contrário do que acontece nos outros serviços. Estamos na psiquiatria. Ala esquerda para as mulheres, ala direita para os homens. É aqui que se tratam as dores que atormentam mais a alma do que o corpo. É aqui que "todos temos um lugar guardado", como diz António Cabeço, director do serviço. Se dúvidas houvesse, Márcia Ferreira estaria pronta a desfazê-las. Aos 23 anos de uma vida saudável, viu-se do lado de dentro deste serviço, com crises de ansiedade diagnosticadas, uma gaguez que chegou a ser completo mutismo até a fala ser resgatada pela música.

Márcia é o caso mais marcante de sucesso da musicoterapia que chega aos doentes duas vezes por semana através do projecto inédito "Saúde com Arte", da Sociedade Artística e Musical dos Pousos (SAMP). A ideia está sob a batuta do maestro Paulo Lameiro, no âmbito de um protocolo estabelecido com o HSA.

Agora que os dias difíceis já lá vão, Márcia conta com clareza tudo aquilo de que se lembra, desde 23 de Janeiro, altura em os espasmos que já tinha há dois meses lhe apanharam os músculos do corpo e da cara. Foi assim que deu entrada no serviço de urgências do HSA.

Uma punção lombar, depois cinco dias em observações e uma ressonância magnética. Dentro da máquina sentiu-se mal. Quando saiu só gaguejava. O diagnóstico não concluiu nada físico e a equipa médica julgou tratar-se de crises de ansiedade. Foi o que lhe disse o psiquiatra, salvaguardando que só a poderia ajudar "se ficasse internada na psiquiatria".

Do primeiro dia de internamento não tem memórias. Dos outros não guarda as melhores. "Vi coisas que nunca pensei que iria ver." Mas fez uma amiga, na colega de quarto. "Era uma rapariga que não dormia. E tomou tantos medicamentos para conseguir dormir, que eles [os médicos] julgavam que ela se tinha tentado suicidar." Márcia continuava a gaguejar. Ali ficou mais de duas semanas. Gostava de ouvir a Raquel, da SAMP, tocar e cantar, às segundas e quartas, porque a par do futebol, a música é outra paixão. Um dia, da viola saíram os acordes de "Fado - Lusitana Paixão", de Dulce Pontes, que Márcia gostava de cantar. O momento há-de ser lembrado por muito tempo no 4.o piso do HSA. "Comecei a cantar. E depois, quando comecei a falar, já não gaguejava. A Raquel e as enfermeiras começaram a chorar." Márcia ainda agora se emociona quando conta a história. Só passou um mês.

A música entrou pela psiquiatria adentro em Janeiro de 2009. Antes, já se tocava e cantava para os doentes crónicos, que estão na aldeia de Andrinos, perto de Leiria. Começou por ser apenas à quarta-feira, durante uma hora e meia. "Mas logo de início percebemos que era muito pouco. E por isso começámos a fazer mais uma hora, à segunda, em regime de voluntariado", conta a professora de Música, Raquel Lopes, sem nunca se separar da viola, o único instrumento que não descansa durante as sessões. Os outros passam de mão em mão. Há ali gente de todas as idades, mas os jovens são maioria. António Cabeço confirma a tendência, associada ao aumento de número de casos que o hospital trata neste piso. Só no ano passado internou cerca de mil doentes, que ali passaram uma média de 18 dias. Desde tentativas de suicídio a crises de ansiedade, há de tudo no serviço de psiquiatria.

Na ala masculina, a professora Raquel Lopes e a educadora de ensino especial Felisbela Belchior têm pouco público na sala de convívio, entre os sofás e a mesa de pingue-pongue. Distribuem maracas por meia dúzia de homens. Trazem com elas um carrinho usado habitualmente para transportar medicamentos, que agora deram lugar ao berimbau, à sanzula, ao pau-de-chuva, às pandeiretas. Cantam "Vejam Bem", de Zeca Afonso, depois de outras canções populares. Alguns continuam alheados, mas à medida que a música vai passando, cresce a atenção, quase entusiasmo.

R. tem apenas 16 anos, é o mais novo elemento da ala masculina. Gosta tanto de ouvir cantar e tocar a "Laurindinha", que quando Raquel pergunta "então o que é que vamos cantar agora?", responde sem hesitar. Daqui a pouco há-de querer seguir a música até à ala feminina, onde não pode entrar. Será preciso fechar as portas do corredor que separa homens e mulheres nas doenças mentais.

uma menina que está à janela Chamadas pela música, elas - sobretudo as de meia-idade - juntam-se logo no início da ala que lhes está destinada. Cantam e batem palmas para acompanhar Raquel e Bela. Algumas afastam-se. Deitam-se nas camas. Outras não chegam a levantar-se. Canta-se a "Menina Estás à Janela", como se tivesse sido feita a pensar em H., não mais de 20 anos, sentada na cama. A música tem esse dom de libertar as emoções. A rapariga chora, e prefere nem ouvir. É dela que Raquel se há--de despedir, no final, porque na hora do adeus, H. vem até à porta perguntar-lhe se lhe ensina a tocar viola. "Vais-te pôr boa e depois procuras-nos na SAMP, combinado?"

Não há ainda dados coligidos sobre a influência da musicoterapia na recuperação dos doentes mentais. Mas Raquel Lopes não tem dúvidas: a música não substitui os fármacos, "mas é um bom complemento". António Cabeço concorda. Mas o que queria mesmo, no imediato, era mais psiquiatras no seu serviço.»

texto de Paula Sofia Luz, acedido em iOnline
imagem acedida em http://www.tintafresca.net/_uploads/Edicao98/SAMP1.JPG